segunda-feira, 23 de junho de 2008

Capítulo III - Primeiras Investigações



_ boa noite, o senhor Maurício Vargas mora aqui? ele está?
_ sim, e o senhor, quem é?
_ detetive Cerqueira – tira o distintivo da polícia civil do bolso – posso falar com ele?
_ um momentinho.

_ Maurício, tem um policial aí fora querendo falar contigo
_ comigo? Por quê?
_ sei lá. Pelamordedeus Maurício, o que você aprontou! Só faltava essa, eu quase parindo e você metido com polícia... o homem tá lá na porta, vai ver o que ele quer.
_ fica calma amor, não deve ser nada sério
_vou pro quarto, que meus pés tão me matando.

_ pois não
_ Maurício? sou o detetive Cerqueira – mostra novamente o distintivo, Maurício abre a porta e dá passagem ao oficial – estou no meio de uma investigação, talvez o senhor possa me ajudar _ conhece Carolina Villenflusser?
_ aah, conheço sim. Por quê?
_ eram amigos?
_ pode se dizer que sim, aconteceu alguma coisa com ela?
_ é o que estou tentando descobrir. Carolina foi vista pela última vez na noite de 27 de abril, o senhor esteve com ela nesta data

_ não, não estive.
_ amigas de Carolina disseram que vocês dois tinham um relacionamento, digamos, íntimo, e conturbado nos últimos meses. O que você tem a dizer a respeito?
_ o senhor se incomoda de conversar sobre isso em outro lugar?
_ como?
_ é que a minha mulher está lá dentro, e num estado, sensível, o senhor deve ter percebido. Não queria que ela ouvisse essa conversa. Tem uma padaria na esquina, o senhor não quer tomar um cafezinho?
_ pode ser, então.

_ amor, o detetive veio aqui me fazer perguntas sobre uma moça que desapareceu, e já tá de saída, vou comprar cigarro e fumar lá fora, tá.
_ cê conhece a moça?
_ conheço, é amiga de um colega lá no trabalho, apareceu umas vezes no happy hour, mas parei de ir depois daquela nossa conversa, nunca mais vi a menina.
_ hum, era dessas biscates que sai com qualquer um, Maurício? Será que foi parar na mão de algum tarado?
_ não sei, Luiza, vi poucas vezes. Vou lá, daqui há pouco tô em casa
_ tá bom.

_ Zé, um café e um pingado por favor – Maurício acendeu um cigarro
_ então, Maurício, como era seu relacionamento com Carolina?
_ aah, eu e Carol tivemos um rolo, sabe? Tô casado há sete anos, fora cinco anos de namoro e noivado com a Luiza. De uns tempos pra cá as coisas tavam monótonas, e aí comecei a entrar nesses chats, na internet. Conversava com assanhadas que saem falando besteira pra qualquer um no bate-papo pra dar uma animada, e no NamoreJá conheci a Carol
_ há quanto tempo você freqüenta esses sites?
_ comecei há quase um ano e parei depois que comecei a ver Carol pessoalmente. Eu entrava nos chats, mas nunca tinha saído com uma mulher da internet, só falava umas sacanagens, via umas loucas se exibindo pela webcam no MSN, mas não tinha coragem de sair do virtual, até porque não ia estragar meu casamento por sexo. Mas a Carol não falava sacanagem. Ela queria alguém legal, com quem pudesse conversar e falava de várias coisas: filmes, livros, trabalho. Foi bem um mês nesse papinho, até que um dia ela quis me conhecer
_ a iniciativa foi dela?
_ mais ou menos, comentei uma vez com ela que seria legal a gente bater papo pessoalmente, e ela disse que nunca tinha encontrado alguém que conheceu pela Internet, e tal, eu disse que tudo bem, a gente podia continuar se falando pelo chat, sem problemas e não toquei mais no assunto. Logo depois ela mudou de idéia e a gente se encontrou
_ ela sabia que você é casado?
_ não, só descobriu depois, e foi quando resolveuterminar.
_ quando foi isso?
_ um mês e meio atrás. Ela me viu no shopping com a Luiza grávida e terminou tudo comigo.
_ quanto tempo vocês ficaram juntos?
_ uns oito meses

_ durante o namoro, ela nunca desconfiou do seu casamento?
_ não. Disse a ela que trabalhava no fim de semana, a gente se via sempre depois do trabalho dela, pegava um cinema, tomava um chopp. No começo só como amigos, aí a gente se gostou e as coisas esquentaram, né, aí a gente namorava no motel mesmo
_você estava apaixonado por ela?
_ não sei, tinha tanto tempo que não gostava de alguém, nem me lembro mais como é paixão. Eu tinha me apaixonado com a Luíza e tô com ela desde então.
_então foi sua primeira infidelidade
_ em doze anos com a mesma mulher.
_ e Carolina terminou ao descobrir que além de casado, você vai ser pai
_ é, ela me viu no shopping e ligou pro meu celular na hora e disse que não queria me ver nunca mais
_ e você?
_ tentei me explicar, mas ela não quis mais me ver. Não entrava mais no chat ou mudou o apelido sem eu saber, não atendia meus telefonemas. Fui no trabalho dela duas ou três vezes, mandei flores e ela me ignorou. Um dia Carol topou ir ao bar comigo, e disse que eu era um canalha mentiroso, pra sair da vida dela. Pedi perdão, pra ela dar uma chance, me esperar, pra eu resolver minha vida com a Luiza, mas ela nem quis ouvir. Saiu do bar chorando e a gente não se viu mais

_ quanto tempo tem isso?
_ umas três semanas.
_ e sua mulher não desconfia que você tivesse um caso?
_ não, não. Dizia que fazia hora extra, jogava bola, bebia com os amigos, ela só se incomodou depois que não conseguia mais ver os pés, mas ainda assim, dava pra escapar um diazinho pra ver Carol, que achava que eu trabalhava demais

_ e qual o apelido que ela usava no bate papo?
_ garota_esperta24
_ e o seu?
_ mau_sujeito.

_ o que o senhor acha que ela...
_ pelo tempo sem sinais, é possível
_ e o detetive tá pensando que eu?? Não, senhor, não faria isso com a Carol!
_ não acho nada, Maurício, quero descobrir o que aconteceu. Amigos da Carolina contaram o quanto ela ficou abalada com o fim do namoro de vocês, suas idas à empresa atrás dela, as flores, essas coisas. Precisava saber sua versão
_ contei a verdade, detetive. Sou suspeito?
_ ainda é cedo pra dizer. Talvez procure você pra esclarecer outros detalhes, prestar depoimento na delegacia. Mas, se você não fez nada, não precisa se preocupar

_ pelamordedeus, detetive, se não acabei meu casamento pra ficar com Carol, não ia fazer uma maldade com ela. Se a Luíza descobrisse e me largasse, isso resolveria meus problemas, estaria livre pra ficar com a Carol
_ entendo Maurício, mas há muito pra investigar, ainda. E uma hora a verdade vai aparecer. Agora acho melhor você voltar pra casa, que não é bom a sua esposa ficar preocupada naquele estado
_ é verdade, detetive. Posso lhe pedir um favor?
_ qual?
_ o senhor pode anotar meu celular? Se precisar falar comigo, ligue direto pra mim, assim a Luíza não se preocupa com essa história.
_ tudo bem – o detetive esticou o bloco e Maurício anotou o número – Obrigado pela cooperação. Boa noite.

Maurício voltou pra casa, Luíza dormia pesado. Tomou uma ducha, e se deitou, sem sono. Virou de um lado pro outro, sem tirar Carol da cabeça. Resolveu entrar no chat, nenhuma garota_esperta24 online.

5 comentários:

paulonando disse...

Boa história!
O que acontecerá agora?
Com quem está a bola da vez?

Tyler Bazz disse...

Adorei!

E essa do Mauricio eu não esperava... casado?? Pai???

=O

Climão Tahiti disse...

Essa inseriu um pouco de mistério.

Acho que a esposa de Maurício matou a menina... =p

Marcio Sarge disse...

"nenhuma garota_esperta24 online", que triste isso soou.humm

Anônimo disse...

"nenhuma garota_esperta24 online".

Será que ele desligou depois disso?

Ou rolou um "ah, deixa eu ver se tem alguém legal aqui, já que entrei?"

Fiquei curioso agora.